Tarifas de Trump: protecionismo justo ou risco global desnecessário?

Recentemente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou a imposição de tarifas recíprocas contra todos os países, reacendendo um debate importante: até que ponto medidas protecionistas são legítimas em um mundo economicamente interdependente?

Enquanto defensores argumentam que a reciprocidade comercial é uma questão de justiça econômica, críticos alertam para os riscos de uma nova guerra comercial global, com impactos potencialmente devastadores para o crescimento e a inflação.

Trump justifica as tarifas como uma resposta a práticas comerciais que considera desleais. Se um país impõe barreiras a produtos americanos, os EUA farão o mesmo. Essa abordagem, em tese, busca equilibrar as relações comerciais e proteger indústrias domésticas.

No entanto, a extensão da medida para todas as nações, sem distinção, pode ser um tiro no pé. Países com os quais os EUA mantêm relações equilibradas serão penalizados da mesma forma que aqueles com superávits abusivos. Isso pode desencadear retaliações em cadeia, elevando custos para consumidores e empresas em um momento em que a economia global ainda se recupera de sucessivas crises.

Os mercados já reagiram com nervosismo. A fuga para ativos seguros, como ouro e títulos do Tesouro, e a queda nos futuros de índices acionários refletem o temor de que as tarifas pressionem ainda mais a inflação e reduzam o crescimento. O Goldman Sachs elevou sua estimativa de risco de recessão nos EUA para 35%, citando justamente o agravamento das tensões comerciais.

O maior perigo é a estagflação – cenário em que a economia desacelera enquanto os preços continuam subindo. Com a inflação americana ainda acima do desejado e o consumo enfraquecendo, medidas protecionistas podem agravar a crise de custos sem necessariamente revitalizar a produção doméstica.

Christine Lagarde, presidente do BCE, já sinalizou que a Europa precisará “assumir o controle de seu futuro”, o que pode significar desde medidas defensivas até acordos comerciais alternativos. A China, maior alvo de Trump em seu primeiro mandato, certamente não ficará passiva.

Se outros países responderem com tarifas equivalentes, o comércio global pode encolher, elevando preços e reduzindo a competitividade. Empresas dependentes de cadeias globais sofreriam pressão, enquanto governos teriam menos margem para cortes de juros, dada a persistência inflacionária.

A estratégia de Trump tem um apelo político claro: “America First” ressoa entre eleitores preocupados com empregos e indústrias nacionais. Economicamente, porém, a medida é um risco desproporcional.

Tarifas recíprocas seletivas poderiam ser uma ferramenta válida em negociações bilaterais. Mas uma política generalizada, em um momento de fragilidade econômica, pode precipitar uma crise maior – sem garantir os benefícios prometidos.

O mundo espera que a retórica agressiva dê lugar ao pragmatismo antes que os danos sejam irreversíveis.

Claudia Regina Gabriele

Advocacia e Consultoria Jurídica


Referência:

Barros, Paulo. “Trump confirma tarifas recíprocas contra todos os países e abala mercados globais”. InfoMoney, 31 de março de 2025.