Por Claudia Regina Gabriele, Especialista em Direito Tributário Empresarial
A recente parceria entre a Eletrolux, o Itaú BBA e o CDP para oferecer pagamento adiantado a fornecedores com base em critérios ESG reforça uma tendência irreversível: a integração entre políticas de crédito e sustentabilidade. O modelo, que vincula condições financeiras favoráveis à redução de emissões e ao uso de matérias-primas recicladas, é um exemplo de como o sistema financeiro pode ser um agente transformador na transição para uma economia de baixo carbono.
O desafio do Escopo 3 e a necessidade de incentivos financeiros
Dados do CDP Latin America mostram que as emissões indiretas (Escopo 3) da cadeia de valor são, em média, 11,4 vezes maiores do que as emissões diretas das empresas (Escopos 1 e 2). No entanto, apenas 9% das grandes empresas latino-americanas monitoram essas emissões, e apenas 8% impõem metas climáticas contratuais.
Esse cenário evidencia dois problemas:
- Falta de engajamento dos fornecedores – Muitas pequenas e médias empresas não têm recursos para investir em eficiência energética ou rastreabilidade de carbono.
- Falta de mecanismos financeiros de incentivo – Sem benefícios tangíveis, a adesão a práticas sustentáveis fica em segundo plano.
A solução? Vincular crédito a desempenho ambiental, como fazem Electrolux, Danone (em parceria com o Banco do Brasil) e Vestas (com o Santander).
Como funciona a política de crédito ligada ao carbono?
No caso da Electrolux, o “risco sacado” permite que fornecedores com melhor desempenho no CDP Supply Chain tenham acesso a taxas diferenciadas. Ou seja: quem reduz emissões e aumenta o uso de material reciclado ganha vantagem competitiva.
Esse modelo é similar ao de títulos verdes (green bonds) e empréstimos vinculados a sustentabilidade (SLBs), mas com foco específico na cadeia de suprimentos. A diferença é que, em vez de apenas reportar metas, as empresas premiaram fornecedores que entregam resultados concretos.
Oportunidades tributárias e regulatórias
Do ponto de vista tributário, iniciativas como essa poderiam ser estimuladas por políticas públicas, como:
- Redução de impostos para operações de crédito sustentável (ex.: isenção de IOF em linhas verdes).
- Incentivos fiscais para empresas que comprovem redução de emissões em sua cadeia (ex.: créditos de carbono ou desoneração de PIS/COFINS).
- Regulamentação do mercado voluntário de carbono, permitindo que empresas usem créditos gerados por fornecedores para compensar seu próprio inventário.
No Brasil, o PL 528/2021, que regulamenta o mercado de carbono, ainda está em tramitação. Enquanto isso, iniciativas privadas como a da Electrolux mostram que o setor produtivo não precisa esperar – é possível criar mecanismos de financiamento que acelerem a descarbonização.
Conclusão: financiamento sustentável como vetor de competitividade
A Electrolux, Danone e Vestas estão provando que sustentabilidade e rentabilidade podem andar juntas. Ao oferecer crédito mais barato para quem reduz emissões, elas não apenas cumprem metas ESG, mas também fortalecem sua resiliência operacional – afinal, fornecedores sustentáveis são menos vulneráveis a crises climáticas e regulatórias.
Para avançarmos, porém, é essencial que:
✅ Bancos ampliem linhas de crédito atreladas a critérios ESG;
✅ Empresas incluam cláusulas climáticas em contratos com fornecedores;
✅ O governo crie incentivos tributários para operações sustentáveis.
O futuro da indústria será low carbon – e quem se antecipar, com políticas de crédito inteligentes, sairá na frente.
E você, acha que o Brasil está preparado para escalar esse modelo?
Referências:
Crédito de Carbono: Oportunidades e Riscos no Planejamento Tributário Empresarial – CRG. https://crgadvogados.com.br/credito-de-carbono-oportunidades-e-riscos-no-planejamento-tributario-empresarial/.
“Electrolux firma convênio com Itaú BBA e CDP para oferecer pagamento adiantado a fornecedores”. Valor Econômico, 16 de maio de 2025, https://valor.globo.com/empresas/esg/noticia/2025/05/16/electrolux-firma-convenio-com-itau-bba-e-cdp-para-oferecer-pagamento-adiantado-a-fornecedores.ghtml.