A encruzilhada comercial do Brasil: entre abertura e protecionismo estratégico

Por Claudia Regina Gabriele, Advogada Tributarista e Especialista em Nacionalização de Empresas

O recente estudo “Integração Comercial Internacional do Brasil” do CDPP reacendeu um debate importante: o Brasil deve acelerar a abertura comercial em meio a uma onda global de protecionismo? Como especialista em nacionalização de empresas, analiso essa discussão da seguinte forma: integração competitiva versus soberania estratégica.

1. O paradoxo da liberalização: crescimento vs. proteção

O estudo propõe reduzir as tarifas médias brasileiras de 11,7% para 6% em quatro anos – alinhando-se a México e Colômbia. Os principais argumentos incluem:

  • Reduzir a “escalada tarifária” sobre insumos importados para aumentar a eficiência industrial;
  • Simplificar estruturas tributárias para cortar custos de conformidade;
  • Endereçar barreiras não-tarifárias (ex.: burocracia que adiciona ~25% aos custos de importação).

Mas o timing é decisivo. Com Trump ameaçando tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e EUA/UE subsidiando indústrias locais (ex.: IRA Act, Chips Act), uma abertura unilateral poderia expor o Brasil a práticas comerciais predatórias.

2. Digitalização e descarbonização: alavancas estratégicas do Brasil

O estudo destaca duas tendências globais irreversíveis onde o Brasil tem vantagens únicas:

  • Digitalização: o mercado de tecnologia brasileiro (que deve crescer 9% ao ano) poderia atrair investimentos em nearshoring se combinado com incentivos como REPES.
  • Descarbonização: Com 84% de matriz energética limpa e IED orientado por ESG, o greenshoring posiciona o Brasil como hub de manufatura verde – desde que regras de conteúdo local (ex.: Rota 2030) garantam a retenção de valor.

O retrocesso ambiental de Trump cria um vácuo que o Brasil poderia preencher – se protegermos setores-chave.

3. Lições dos anos 90: por que a nacionalização importa?

O estudo alerta contra repetir erros passados: a abertura dos anos 1990 causou danos duradouros a setores intensivos em mão-de-obra (têxteis, calçados) devido à falta de políticas de transição. Hoje, os riscos são maiores:

  • Setores estratégicos (ex.: semicondutores, fármacos) exigem tarifas assimétricas – baixas para insumos, altas para produtos acabados.
  • Incentivos à localização (ex.: reduções de IPI para produção nacional) devem preceder cortes tarifários amplos.

4. Um terceiro caminho: protecionismo inteligente

Em vez de liberalização total ou isolamento, o Brasil deveria:

Adotar políticas industriais “estilo Coreia”: combinar redução tarifária com créditos fiscais para P&D (Artigo 18 da Lei do Bem) em setores críticos.

Alavancar a escala do Mercosul: negociar acordos comerciais em bloco para fortalecer poder de barganha.

Ampliar redes de proteção social: financiar requalificação profissional via FAT, como sugerido no estudo.

Integração ≠ Submissão

O estudo do CDPP apresenta argumentos convincentes para ganhos de eficiência, mas a política comercial brasileira deve equilibrar abertura com soberania. Num mundo onde EUA e UE subsidiam suas indústrias enquanto taxam importações, o desarmamento unilateral é perigoso.

O caminho?

Liberalização seletiva ancorada em objetivos de industrialização nacional – área onde advogados tributaristas são essenciais para estruturar operações competitivas e em conformidade.

Sua opinião: o Brasil deve priorizar redução tarifária ou protecionismo estratégico? Comente abaixo ou agende uma análise detalhada.

(Fontes: Valor Econômico, estudo do CDPP “Integração Comercial Internacional do Brasil”, dados do MDIC)