Capitalismo chinês no Brasil: como a BYD e outras empresas estão moldando o mercado

Claudia Regina Gabriele, Advogada Tributarista e Especialista em Nacionalização de Empresas

O Brasil está se tornando um laboratório do chamado “capitalismo chinês”, com empresas como a BYD, SHEIN, Shopee e Didi transformando setores como automotivo, e-commerce e delivery. A chegada de 7.000 veículos da BYD no porto de Itajaí em maio deste ano reforça essa tendência, evidenciando como a competição acirrada do mercado chinês está sendo exportada para o Brasil – com impactos na indústria, no comércio e na política tributária.

A disputa no setor automotivo: BYD lidera, mas a concorrência cresce

A BYD já é a líder em vendas de veículos eletrificados no Brasil, mas sua posição será desafiada por pelo menos oito marcas chinesas já instaladas e outras três em chegada, como Leapmotor e MG Wuling.

  • Excesso de oferta na China: Com um estoque de mais de 3 milhões de veículos, as montadoras chinesas buscam mercados externos, e o Brasil é um alvo prioritário.
  • Preços competitivos: A BYD reduziu em 2,3% o valor de seus modelos Dolphin Mini e Song Plus, pressionando concorrentes tradicionais.
  • Nacionalização acelerada: A fábrica da BYD em Camaçari (BA) deve produzir 50 mil veículos em 2025 e 150 mil em 2026, mas depende de incentivos fiscais para viabilizar a transição do modelo SKD (semidesmontado) para produção local.

🔍 O que isso significa para o Brasil?

  • Mais opções para o consumidor, com veículos elétricos e híbridos a preços mais acessíveis.
  • Pressão sobre montadoras tradicionais (como Volkswagen, GM e Toyota) para acelerar a eletrificação.
  • Desafios tributários: O governo precisa equilibrar proteção à indústria nacional e atração de investimentos, como a BYD pedindo redução do Imposto de Importação para 10% em carros semidesmontados.

E-commerce e Delivery: a expansão das gigantes chinesas

Além do setor automotivo, a presença chinesa está revolucionando o varejo digital e os serviços de entrega:

  • Shein e Shopee já respondem por grande parte das importações, que cresceram 26% em 2023 (US$ 29,5 bilhões).
  • Shein agora é marketplace, com 30 mil vendedores locais, adaptando-se à taxação de importações.
  • Didi e Meituan (Keeta) entrarão no mercado de delivery, competindo com iFood e Rappi.

📌 Impacto regulatório:

  • A Receita Federal está aumentando a fiscalização sobre compras internacionais abaixo de US$ 50.
  • Empresas chinesas buscam parcerias locais para evitar barreiras tributárias.

O que esperar nos próximos anos?

1️⃣ Guerra de preços: Marcas chinesas devem continuar pressionando concorrentes com custos menores.

2️⃣ Mais fábricas no Brasil: A Gree (ar-condicionados) investirá R$ 50 milhões em Manaus até 2026, seguindo a BYD.

3️⃣ Adaptação das regras tributárias: O governo precisará rever políticas para não perder investimentos, como no caso da BYD.

O Brasil no radar do capitalismo chinês

A estratégia das empresas chinesas no Brasil vai além da exportação – elas estão se instalando, produzindo localmente e dominando setores estratégicos. Isso traz oportunidades (empregos, inovação, preços mais baixos) mas também desafios (concorrência desleal? dependência tecnológica?).

O papel do planejamento tributário e de políticas industriais será crucial para equilibrar essa equação.

E você? O que pensa deste cenário?


Referência: https://www.portaltela.com/economia/negocios/2025/07/08/brasil-adota-praticas-do-capitalismo-chines-em-setores-de-carros-e-tecnologia