O Brasil está revolucionando a agricultura sustentável

Por Claudia Regina Gabriele, Tributarista e Especialista em Nacionalização de Empresas e Planejamento Tributário

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será sediada em Belém em 2025, coloca o Brasil no centro do debate global sobre sustentabilidade. Um dos temas mais urgentes é o financiamento climático para a agricultura sustentável, setor que responde por cerca de 25% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no país, além de estar diretamente ligado a outros 50% das emissões decorrentes de mudanças no uso da terra.

O artigo do Valor Econômico, assinado por Eli Weiss e Marie Paviot, especialistas do Banco Mundial, destaca uma oportunidade crucial: o redirecionamento de subsídios agrícolas para tecnologias de baixo carbono, o que poderia reduzir em mais de 40% as emissões do setor. Como tributarista e especialista em estratégias fiscais e mercados de carbono, vejo nessa proposta não apenas uma necessidade ambiental, mas também uma janela para realinhar políticas públicas com incentivos econômicos inteligentes.

O problema dos subsídios ineficientes e a distorção tributária

Atualmente, o Brasil destina bilhões em créditos subsidiados e apoio direto aos produtores, com uma distribuição concentrada em médios e grandes agricultores, muitas vezes sem critérios claros de sustentabilidade. Essa política, além de regressiva, perpetua um modelo agrícola que prioriza a produtividade imediata em detrimento da resiliência climática.

A reformulação desses incentivos, vinculando-os a práticas como agricultura de baixo carbono (ABC), integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e recuperação de pastagens degradadas, poderia não só reduzir emissões, mas também aumentar a eficiência econômica do setor. O Plano Safra + Verde é um avanço, mas ainda é insuficiente diante da urgência climática.

O papel dos créditos de carbono e dos incentivos fiscais

O mercado de carbono emerge como uma ferramenta estratégica para viabilizar essa transição. Se o Brasil estruturar um sistema robusto de precificação de carbono — seja via impostos verdes, como a CIDE-CO₂, ou por meio de mecanismos de compensação —, os produtores rurais poderão ser remunerados por serviços ambientais, como o sequestro de carbono no solo e a preservação de biomas.

Além disso, a nacionalização de empresas estrangeiras no agronegócio poderia ser condicionada à adoção de metas de descarbonização, criando um círculo virtuoso entre investimento estrangeiro e sustentabilidade. A tributação diferenciada para empresas que adotem práticas ESG (Environmental, Social, and Governance) também seria um caminho para alavancar essa mudança.

COP30: o Brasil como líder da agricultura sustentável

A COP30 é a chance de o Brasil assumir um papel de liderança global, mostrando que é possível conciliar produtividade agropecuária com sustentabilidade. Para isso, é fundamental:

  1. Redirecionar subsídios para práticas de baixo carbono, com critérios transparentes e auditáveis.
  2. Fortalecer o mercado de créditos de carbono, integrando o agronegócio a um sistema nacional de compensações.
  3. Ampliar investimentos em pesquisa, como os desenvolvidos pela Embrapa, para tecnologias sustentáveis.
  4. Criar incentivos fiscais verdes, como redução de impostos para produtores que adotem ILPF ou recuperem áreas degradadas.

O momento é agora

A transição para uma agricultura sustentável não é apenas uma obrigação climática, mas uma oportunidade econômica. O redirecionamento de apenas 1% do financiamento agrícola global poderia gerar US$ 2 trilhões em benefícios nas próximas décadas, conforme destacado no artigo.

Como tributarista, entendo que a reforma das políticas fiscais e a criação de mecanismos de precificação de carbono são essenciais para viabilizar esse futuro. O Brasil tem todas as condições de ser o grande protagonista dessa mudança — basta que governo, setor privado e sociedade civil aproveitem a COP30 para transformar discurso em ação.

A hora de agir é agora. O planeta — e a economia — agradecerão.


Referências:

“A agricultura sustentável na COP30”. Valor Econômico, 26 de maio de 2025, https://valor.globo.com/opiniao/coluna/a-agricultura-sustentavel-na-cop30.ghtml.

Sobre a COP30. https://cop30.br/pt-br/sobre-a-cop30. Acesso em 27 de maio de 2025.

COP30 and the integration of tax planning. https://www.linkedin.com/pulse/cop30-integration-tax-planning-claudia-regina-gabriele-an2qf. Acesso em 27 de maio de 2025.


Claudia Regina Gabriele | Tributarista, Especialista em Nacionalização de Empresas e Mercado de Carbono

Claudia Regina Gabriele Advogados

IG: @claudiareginagabriele